WICCA
Espaço dedicado à Wicca
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WICCA:
Wych em saxão e Wicce em inglês arcaico significam "girar, dobrar, moldar". Uma palavra radical indo-européia ainda mais antiga, Wic, ou Weik, também significa "dobrar ou moldar". A palavra "Witch" também pode ter a origem na antiga raiz germânica Wit – Saber. A palavra "Wicca", que tem a mesma raiz que "Witch" - vem do inglês antigo "wicce", proveniente da raiz saxônica "wic'" e hoje está relacionada com religião e magia. Assim: Wicca era uma palavra do Inglês Antigo (pronunciava-se 'witcha') que significava homem sábio ou xamã sendo ‘wicce’ a forma feminina.
A Wicca surgiu no período Neolítico, em várias regiões da Europa, onde hoje se localiza a Irlanda, Inglaterra, País de Gales, Escócia, indo até o Sudoeste da Itália e a região da Britânia na França. Quando os Celtas invadiram a Europa, quase mil anos antes de Cristo, trouxeram suas próprias crenças, que, ao se misturarem às crenças da população local, originaram o sistema que deu nascimento à Wicca. Foi somente na Idade Média que a Bruxaria foi relegada às sombras com o domínio da Igreja Católica e a criação da Inquisição, cujo objetivo era eliminar de vez as antigas crenças.
A religião Wicca ressurgiu com o bruxo inglês Gerald B. Gardner que impulsionou o renascimento do culto, com o nome de Wicca, juntamente com outros bruxos e bruxas, em meados dos anos 40 e 50. Após a revogação da última lei britânica sobre bruxaria, em 1954 elelançou o livro “Bruxaria Hoje”, considerado um marco para o renascimento do paganismo mundial. Ele alegou que: a religião, na qual ele fora iniciado, era uma sobrevivente moderna de uma antiga religião da bruxaria, que tinha existido em segredo durante centenas de anos, originária do Paganismo pré-cristão da Europa. A Wicca é, assim, às vezes referida como a Velha Religião, ou a Nova Religião dos Velhos Deuses.
segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
O PROCESSO DA CURA NA CULTURA POPULAR
CAUSAS APONTADAS PELO POVO: AGOURO (AGOIRO) Diversas coisas são proibidas por agourar a mãe. SOPRO Soprar no pó é sinônimo de feitiço. Dizem: As coisas da macumba vem pelo ar. URUCUBACA, ENCANTAMENTO, COISA FEITA e FEITIÇO e FÓRMULAS MÁGICAS Obra de fada, bruxo ou feiticeiro. Por sua ação mágica e seu poder sobrenatural, um monstro pode ser um príncipe encantado. MANDAR O mal que nos aflige pode ser um mal mandado. PRAGA Rogar praga pode causar uma doença ou o atraso. MAU-OLHADO ou OLHO RUIM Energia negativa que faz o outro adoecer de quebranto principalmente crianças. FUMAÇA Trabalho feito pelo mestre do catimbó. Fumaça às direitas indica todo o trabalho para o bem, cura de doença, conselho, desmanche de feitiço, oração de proteção. Fumaça às esquerdas é o trabalho para o mal, desmanchar casamento, causar doença, atrapalhar negócios. ESPÍRITO MAU e ENCOSTO Causa: um espírito mau e os vermes de doentes, possessos de demônio ou encosto. Precisa de exorcismo. VONTADE DE DEUS ou Castigo. Pode ser obra de algum santo malino, quando o povo não cumpre a promessa feita. OMOLU ou OMULU Na Bahia, o “orixá da peste e da bexiga” tem o título de médico dos pobres, mas pode assustar os humanos. Na umbanda, Omolu é divindade da lepra e da peste. OSSÁIN ou OSSÃE O orixá, senhor das folhas medicinais e rituais, também as venenosas. LUA NOVA A lua pode endoidar e influencia a menstruação das mulheres. SOL As orações contra dor de cabeça pretendem tirar o sol da cabeça. AR BRABO, MAU AR e MAL-DE-VENTO-EXCOMUNGADO O mesmo que ar brabo, ar estupor, moléstia do tempo. Cortam o vento colocando uma tesoura aberta, isto é em forma de cruz. Poderia trazer coisa ruim(doença, coisa mandada). CALOR DO FOGO Os que lidam com o calor do fogo correm o risco de pegar uma constipação quando ao mesmo tempo se expõe ao frio da chuva ou do vento. É uma espécie de derrame cerebral ou congestão. Também chamado ar-estupor.MOSCAS e MOSQUITOS causam bicheira, dengue, malária. CAUSAS DA CEGUEIRA: catarata, glaucoma, varíola, sarampo, diabete. VENENO: Cobreiro vem de aranha, lagartixa, sapo e todos os animais que tem peçonha. Picada de cobra. BACILOS: causam cólera e hanseníase. MICRÓBIOS: causam a doença de chagas. O termo moderno entrou numa oração da tradição oral contra dor de dente: Santa Apolônia, que por amor de Jesus fostes martirizada, dizei comigo estas palavras, fazendo comigo o sinal da cruz sobre o lugar dolorido. † Por minha ordem afasta-te, mal. † Se for uma gota de sangue, secará. † Se for um verme ou micróbio, morrerá. Assim seja. Rezar um Creio em Deus Pai.8 PARASITAS causa a esquistossomose. VERMES causam dor de dente. ARROTO DA CRIANÇA NO PEITO DA MÃE deixa o peito arruinado.OUTRAS CAUSAS: OS HUMORES DO CORPO: Segundo as antigas teorias dos humores do corpo, o desequilíbrio dos fluidos causava doença. As doenças podem ter três causas. A primeira depende da vontade humana: alimentação, tipo de trabalho, descanso, relações. A segunda está no clima, mudança de temperatura, ventos, estação do ano. A terceira consiste em fatores hereditários. Em caso de doença, supõe-se que todo homem possui uma força curadora que promove o equilíbrio dos humores. QUATRO ELEMENTOS: Terra, água, ar e fogo. O antigo livro do “Lunário Perpétuo”9 elabora as ligações entre os quatro elementos, as quatro estações, as qualidades: quente,frio, seco e úmido, e os quatro humores: sangue, fleuma, melancolia e cólera. Para entender a cultura popular precisamos lembrar-nos sempre dos quatro elementos e da influência cósmica. A doença (a dor) é soprada; dor e febre (calor) são mandados para a água: o fundo do mar, para tirar o sol da cabeça põe-se uma garrafa d’água na cabeça, em nome de Deus. Os quatro elementos aparecem nas orações populares contra queimaduras. RESUMINDO E RETOCANDO AS CAUSAS: Mesmo não separando vida e religião(profano e sagrado), o povo sabe muito bem a diferença entre remédio e reza. - Uma esconjuração ou um exorcismo visa afastar um espírito mau, o demônio, um encosto ou alguma outra causa espiritual.- Outras orações pedem a Deus e aos santos para os remédios funcionar, ou para mostrar misericórdia e abrandar um castigo. - Apertar, puxar, endireitar servem para pôr um osso rendido, uma espinhela caída ou uma arca no seu devido lugar. - Fazer sangria, dar purgante, banhar podem buscar o equilíbrio dos humores do corpo. - Simpatias e amuletos tentam atrair as influências favoráveis do elemento mineral, vegetal, animal e mesmo cósmico. - Plantas medicinais corrigem o mau funcionamento algum órgão do corpo. Antibióticos eliminam bacilos e micróbios, segundo o povo. - Em muitas doenças, as causas e os remédios são vários. A bênção juntamente com o remédio visam salvar o doente como um todo. NOTA: CAUSAS NA MEDICINA INDÍGENA O médico Marcos A.Pellegrini, narra a tragédia dos yanomami no seu livro “Wadubari”. Segundo o autor, a medicina ocidental combate a causa instrumental das doenças que no caso da malária é o ‘plasmodium’. Pela lógica médica indígena, para combater a malária deveria-se lutar contra a sua causa última, que é a ganância dos garimpeiros pelo ouro.10 [Image]LUNÁRIO PERPÉTUO (Verbete do “Abecedário da Religiosidade Popular, vida e religião dos pobres no Brasil”, de Frei Francisco van der Poel e Lélia Coelho Frota. 2001, no prelo.) Livro conhecido na Rel.Pop.brasileira, cujo título completo é "O non plus ultra do Lunário e Prognostico perpétuo geral, e particular para todos os reinos e províncias." Composto por Jerônimo Cortez Valenciano. Emendado e traduzido em português por Antonio da Silva Brito. Lisboa, Typ.de Matias José Marques da Silva, 1858. A primeira edição em português é de 1703. • Na edição de 1757, consta: - "Emendado conforme o Expurgatório da Santa Inquisição e traduzido em Português por Antônio da Silva Brito". • Segundo Julio Caro Baroja, a primeira edição em Espanhol saiu em 1594. E em 1494, já existia em Barcelona o “Lunari i Repertori del Temps” de Bernardo Granolach.1) • Trata-se de uma obra importante e curiosa que resume e explica de modo popular os conhecimentos do mundo na era que antecede o surgimento das ciências modernas. Nela não há separação entre vida e religião.• O Lunário conta o ano por luas. Começa tratando das divisões do tempo e do mundo. Mostra a importância dos quatro elementos e dos astros(signos, planetas, sol e lua). Dá ensinamentos sobre plantas, árvores, animais, e sobre a vida dos homens e dos povos em cada mês, e sobre todos os planetas. Fala dos quatro humores do corpo. Dá atenção especial às idades da lua, suas conjunções com os signos do zodíaco e seus efeitos sobre o mar e sobre a produção dos mantimentos. Explica o que os signos tem a ver com o destino dos homens e das mulheres. Fala dos eclipses. Faz prognósticos sobre o tempo para todo sempre. Dá orientações práticas sobre purgas, sangrias e ventosas. Dá explicações sobre saúde e doenças. Relata sinais de peste, de terremotos, de carestia; sinais de chuva, vento e seca. Ensina muitos remédios. Dedica algumas páginas ao Responso de S.Antônio e ao Agnus-Dei. • O Lunário já foi muito usado no Brasil. v.Folhinha de Mariana. Ainda se encontram exemplares do lunário entre o povo. A expressão: -Tem coisas que no lunário não tem, significa raridades.2) • O "Lunário e Prognóstico Perpétuo" de Jerônimo Cortêz Valenciano continua sendo editado em Portugal pela Editora Lello e Irmão, porém "reformado e muito acrescentado". Por ex.: na edição de 1980, corrigiram todos os cálculos dos tempos e conjunções da lua que andavam afastados da verdade. Também colocaram muitas novidades úteis e divertidas. Ao mesmo autor é atribuído um livro chamado "Fysiognomia e vários segredos da Natureza"(Lisboa, 1699). • Outro lunário encontramos no Repertório dos Tempos(1593). • Verbetes afins: v.Astrologia. v.Secular Livro da Bruxa. _______________________Nota 1: BAROJA, Julio Caro. Verbete: - “Lunario”. In: BARRIENTOS, Joaquín Álvarez. et allii. Dicionario de Literatura Popular Espanhola. Salamanca, Ed.Colegio de España, 1997. p.197. Nota 2: MOTA, Leonardo. Adagiário Brasileiro. Belo Horizonte: - Itatiaia; São Paulo: - Ed.da USP, 1987. p.217. [Image]Capítulo: 4.R E M É D I O S, S I M P A T I A S E R E Z A S R E M É D I O SO remédio que resolve problemas graves é chamado um “santo remédio”.Dizem também: Deus querendo, água do pote é remédio.A: - P L A N T A S M E D I C I N A I S :São administradas em chás, garrafadas, xaropes, cheiros e defumadores, em banhos e em banhas. - É bom lembrar que não só raizeiros conhecem raízes, sementes e folhas. Todos conhecem e usam as plantas medicinais: quebra-pedra, boldo, carqueja, hortelã. Especialmente, o conjunto das mulheres de uma rua ou bairro cultiva o conhecimento das plantas. Quando alguém adoece, as comadres conversam. Uma sabe o que é bom, outra sabe onde cresce. Vão aqui aqui apenas alguns exemplos do uso das plantas e sem nenhuma garantia da parte do autor deste artigo. AGONIADA Planta medicinal para tratamento das doenças do útero, dos ovários, da asma. Cura corrimentos. ANGICO Planta medicinal. Misturado ao olho-de-goiaba e à casca do pajeú, é usado como remédio contra veneno de cobra(BA,médio São Francisco). ASMA Remédio contra asma: Toma-se três raízes de erva cidreira(socadas) e três casas de “Maria Barreira”(marimbondo). Depois de tudo fervido e coado, tomar o chá. CAJU Como remédio, o caju é bom para tosse de cachorro, depurar o sangue, contra escorbuto, afta, cólica intestinal, males dos rins. A cinza serve para dentifrício. A casca, boa para tirar cansaço. O óleo da castanha é útil para desinfetar e para verme no intestino, ajuda na cura de eczema e de hanseníase, cicatriza verruga e úlceras. O suco da fruta, entre outras coisas, é bom para tratar diabetes, sífilis, icterícia, dores de mulher. CAPIM-AÇU É bom para o pulmão e cura coqueluche, que chega a prejudicar as vistas da criança. Usam o sumo do capim-açu com leite de égua. É um remédio quente. Também levar a pessoa para dentro do rio de manhã cedo e mergulhá-la três vezes dentro da água. Existem ainda as simpatias para curar coqueluche: casinha de “Maria Barreira”. O governo promove a vacinação preventiva e obrigatória. GUINÉ Planta medicinal, mas fedorenta. A raiz é remédio fino, diurético, depurativo do sangue, traz alívio na dor de dente, e é abortivo. Guiné na cachaça de uso externo é bom para reumatismo. Doses elevadas podem levar à morte. Defumatório de folhas de guiné nas sextas-feiras às portas das casas ou dentro delas é usado como preservativo contra mandingas e coisas-feitas. Há figas esculpidas em guiné, e Santo Antônio de Guiné. A COLHEITA DAS PLANTAS MEDICINAIS Há plantas que, por mistério, apenas aparecem em determinada hora ou dia. Há plantas que ganham mais força quando são colhidas no dia de certo santo, por exemplo na noite de São João ou em Sexta-feira Santa. O curador em busca de plantas medicinais poderá pedir licença: Deus te salve, laranjeira que venho te visitar. Venho te pedir uma folha para nunca mais voltar.11 Segundo os raizeiros, há plantas encantadas que só são encontradas após certas cerimônias. O mesmo existe na Angola. - É costume plantar para o uso medicinal, um pouco de alho, fumo, arruda, na Sexta-feira da Paixão(o dia da salvação). É impossível separar a planta medicinal da religião. A própria rezadeira benze e ensina as plantas. Há muitas plantas com nomes religiosos: espinheira santa (Neutraliza o ácido, por isso é boa contra úlcera no estômago. O suco cura até bêbados. Encontrada na região de São Paulo ao Rio Grande do Sul.) malva-de-São-Francisco, São-Caetano, Santo Inácio, Vassourinha de Nossa Senhora, raiz-do-Espírito Santo, etc.. B: - O U T R O S R E M É D I O S BANHA Pomada da medicina popular. Exs: banha de jibóia é boa para reumatismo; banha de capivara para zoeira nos peitos; banha de canela da ema para surdez; banha de galinha é bom para perebas e tumores; banha de jacu é usada na asma e chiadeira do peito; banha de porco desinflama panariz e, derretida na pinga, cura embriaguez. Banha de traíra cura dor de ouvido. CORDÃO UMBILICAL É guardado e usado para remédio: chá de cordão é usado contra epilepsia. CREOLINA Remédio caseiro contra a malária e dor de dente. Num gargarejo, cura dor de garganta. Umas gotinhas no café da manhã curam a gripe. Na água do banho, para curar caruara, frieira e feridas e ficar com a pele lisa. Ela pura cura bicheira. RISCADO DE CINZA Cura empazinado. Barriga doendo, porque cheia de gaz. Remédio: riscado de cinza de fornalha. Beber a água e passar a borra em cruz no umbigo. Observamos a não-separação de remédio e reza. LEITE MATERNO Usado como colírio. PEDRA-DO-BUCHO O mesmo que maçã, benzoá, bezoar. Trata-se de uma bola compacta de pelos(tricobenzoar) ou vegetais, formada no estômago dos ruminantes. É usada, entre outros, contra a lepra(no Vale do Jequitinhonha.MG). PICUMÃ ou PUCUMÃ Fuligem do fumeiro, às vezes usado em remédios e para curar o umbigo de recém-nascido. RAPÉ Pó de fumo de rolo, torrado e moído. Dor de barriga de menino é curada com três cruzinhas de rapé em cima do umbigo. Há também o rapé de emburana macho.O povo distingue: remédio fino, remédio fresco e remédio quente: REMÉDIO FINO Provoca suadouro. Por isso o doente não pode se molhar na água fria de chuva ou banho. Remédios finos: (Alguns exemplos) - Gendiroba (torrada e moída) tomada sem dieta, um baguinho só, é bom para dores de cólica e de estômago; (Com sebo) pomada contra dores de reumatismo. - Guiné (raiz na pinga) bom para dor e reumatismo. Contra mordida de cobra. - Pau-de-ovelha (muqueca quente) bom para reumatismo e dor. - Folha da negra-mina (folha amarrada na cabeça) bom para dor de cabeça e ar-de-estupor. - Alho (chá) contra dor de dente. - Jalapa (doce de jalapa) contra vermes. REMÉDIO FRESCO ou FRIO O remédio fresco, chá fresco, refresca o corpo por dentro. Cura mau-estar da vista, dos rins, fígado e intestino. Remédios frescos: açafroa, quina, quebra-pedra, salça, jalapa, picão, poejo, peroba rosa, tiuzinho, limão, folha de abacate, água-da-colônia (raiz), cipó-de-São-João (raiz), pimenta malagueta, tomate, limão e caju. Folha de caju (folha seca?) cozida e adoçada é ótima. REMÉDIO QUENTE O remédio quente põe a doença e o calor para fora do corpo. Usado nas doenças Sarampo, febre, catapora, coqueluche, bixiga, gripe, asma, e outros. Remédios quentes: carro santo, pimenta-do-reino, raiz de fedegoso, cravo, amendoim, alfavaca, unha danta, sabugueiro, gengibre, agrião, hortelã, limão (assado), laranja tanja, levante, anador da farmácia e outros. Alguns destes são remédios finos. O remédio quente incomoda o fígado, os rins e o intestino. [Image]S I M P A T I A S : Entre remédios, rezas e simpatias, o remédio e a reza são os mais fáceis de definir. A simpatia, como elemento menos racional, é mais difícil de entender. Não é um remédio nem uma medalha. A própria palavra simpatia já sugere um coisa que não se explica. Vejamos: uma criança não caminha bem. A mãe pega na teia de aranha aquele bolinha amarela que é formada pelos ovos da aranha, e esfrega-a na perna da criança. Que é isso? Alguém poderia dizer: Ali tem cálcio, tem proteínas, fazendo assim da simpatia um remédio. Está errado! Observem: a aranha caminha que é uma beleza. A mãe passa os ovos da aranha na perna da criança imaginando que a agilidade da aranha passe para a criança. É isso aí. Outros banham a perna da criança com chá de pé de veado, pelo mesmo motivo. Criança gaga bebe água da campainha do altar. Esperam que o som desembaraçado da campainha que faz todos levantar e ajoelhar na igreja, passe para a criança. Mas como pode? Não sei. Eu já não disse que as simpatias não se explicam! Os exemplos que dei, ainda parecem ter alguma lógica. Outros não tem nenhuma. Há simpatia de amor, de boa sorte, para ganhar no jogo. Há simpatias que a pessoa envolvida não pode saber. Outras a própria pessoa faz. Na medicina popular, as simpatias servem para curar verrugas, hemorróidas, asma, epilepsia, soluço, para o cabelo crescer, para não secar o leite materno, na hora do parto e para sair a placenta. Muitas vezes aparecem em conjunto com remédios e rezas. Há simpatias de prevenção: por ex., para fechar o corpo. A palavra ‘simpatia’ vem do grego, “sentir juntos o mesmo”. Parte fundamental da medicina popular, as simpatias vem de tempos remotos. Um médico suíço do séc.XVI, Paracelsus, julgava necessária a “antiga arte de fazer uma simpatia com a doença”. Esta prática parece ter vindo do antigo Egito. A simpatia revela uma diferença entre a terapia puramente intelectual e outra pelo curador que conhece a doença por experiência própria e que peleja com o sofrimento dos outros. O amuleto é uma espécie de simpatia. Embora a simpatia não se explique, o funcionamento da simpatia supõe alguma relação íntima entre homens, animais, plantas e planetas. A intuição desta profunda união não leva em conta as leis de causa-fim. Por ex.: para secar o leite materno a mulher põe ao pescoço um cordão de talos da mamona. Fazendo uma simpatia, as pessoas buscam na ação a concretização de um desejo. O uso das analogias para encontrar remédios é antiquíssimo. Mas foi Paracelso(1493-1541) que elaborou um sistema lógico a respeito. Seguem mais alguns poucos exemplos tirados da medicina popular: EMPELICADO ou APLICADO Diz-se da criança que nasce coberta por uma película. Nasceu empelicado quer dizer, nasceu para ser feliz e ter boa sorte. Alguns colocam a película, depois de seca, como simpatia no travesseiro da criança, sem ser revelada.(Araçuaí.MG.1991.) HEMORRÓIDAS Também chamadacaseira. Existem orações e simpatias para tratá-las, como sentar-se no couro do bicho preguiça. Usam banhar com erva-de-bicho. Colocam o pó da pele torrada da moela de galinha(MG). MALEITA O mesmo que malária. Maleitado, com febre. Além de remédios, encontramos uma simpatia engraçada para afastar ou queimar a maleita. Querendo proteger-se da doença, a pessoa leva na cabeça um feixinho de gravetos até uma encruzilhada. Lá prepara uma trempe como se fosse uma fogueira e diz três vezes:Maleita, fica aí que eu vou buscar fogo pra fazer café para nós. Depois afasta-se sem olhar para trás, que a maleita ficará presa entre os gravetos.12 PREGO O gesto mágico de bater um prego numa árvore para livrar de febre, dor de dente e hérnia, já existia na Europa antiga precristã e perdura até hoje. Conforme uma simpatia tradicional em Betim(MG), para diminuir o umbigo grande da criança, a mãe deve bater um prego novo num cupim. Na medida que o prego some pela ação do cupim, o umbigo vai diminuindo. PROTEÇÃO Plantas como espada-de-São Jorge e guiné são usadas como simpatia e protegem moradias e locais de comércio de maus olhados e outros fluidos maléficos. [Image] R E Z A : Em Araçuaí(MG), registrei umas 2500 rezas. Boa parte serve para curar doenças. Muitas para quebranto. Outras tantas para estancar sangue numa ferida, para engasgo, para dor de dente, dor de pontada, para lombrigas, para cobreiro, para íngua e muitas outras. Algumas orações não podem ser reveladas. Algumas são preventivas, como a oração de São Bento para cobra não ofender. No nosso contexto, o benzimento ou a bênção é um ritual de cura. Há benzimentos para doenças específicas e outras que servem para qualquer doença. Por ex., faça um sinal da cruz e diga: Eu te benzo pelo nome que te puseram na pia, em nome de Deus e da Virgem Maria, e das três pessoas da Santíssima Trindade, eu te benzo. Deus nosso Senhor que te cura, Deus que te acuda nas tuas necessidades. Se teu mal é quebrante, mal invejado, olhos atravessados ou qualquer outra enfermidade, se te deram no comer, no beber, no sorrir, no zombar, na tua formosura, na tua gordura, na tua postura, na tua barriga, nos teus ossos, na tua cabeça, na tua garganta, nas tuas lombrigas, nas tuas pernas. Que Deus Nosso Senhor que há de tirar, vem um anjo do céu, deita no fundo do mar onde não ouça galinha e nem galo a cantar.Faz-se uma cruz em cima o copo e reze o credo três vezes, na segunda vez reze um PN à Santíssima Trindade e na terceira vez uma Salve Rainha a Nossa Senhora. Faça essa oração três dias seguidos. Antes do benzimento colocar um copo com água e depois dar para a pessoa beber.(Casa Branca.SP. 1994) No ritual da cura, não se separam corpo e alma. Não é possível salvar somente a alma ou apenas o corpo. Por isso, é possível estar com o diabo no corpo. E até: deitar a alma pela boca. Nas doenças amarram um cordão de orações no corpo, oferecem no santuário o peso do corpo em cera. Numa oração para parto e numa outra contra lombrigas, anotam-se numa tirinha de papel as letras iniciais da oração, para serem engolidas. Muitos trazem no corpo as marcas do sofrimento, da seca, da violência, da pobreza, da doença. Para ficar invulnerável contra todos os males e perigos existem os rituais para fechar o corpo. Algumas fórmulas de rezas são tão antigas que suas origens seguramente se encontram na mitologia germânica ou céltica do início da história da Europa pré-cristã. Temos o exemplo da reza de izipa, encontrada num código austríaco do séc.IX, ainda na época da cristianização da Europa por Carlos Magno:Do tutano deu no osso, do osso deu no nervo, do nervo deu na carne, da carne deu na pele, da pele foi para as ondas dos mar etc, etc. Mas, mesmo assim, as rezadeiras se adaptam aos tempos modernos. O micróbio já entrou na oração contra dor de dente. O gelo na bênção da carne quebrada. Duas formas de oração ligadas às curas: - A oferta do ex-voto, objeto de cera, madeira, prata e outros materiais, em forma de cabeça, perna, peito e outras partes do corpo humano: ou então, muletas, pinturas, fotografias, miniaturas, para pedir e agradecer curas, proteção divina em perigos, graças alcançadas ou outra experiência religiosa. Os ex-votos ou ‘milagres’ são deixados em santuários de romaria. - O exorcismo ou esconjuração. Em nome de Deus e através de rito ou palavra dominar e expulsar um espírito mau e os vermes de doentes, possessos de demônio ou encosto. O exorcismo tem como resultado a cura, a reconciliação e o perdão, enfim, a salvação. Hoje usado frequentemente nas igrejas pentecostais e no movimento carismático católico. Grandes epidemias históricas deixaram suas marcas na oração pública. Vários benditos de São Sebastião, São Barnabé, e de São José falam em “peste, fome e guerra”. Especialmente os cantos de penitência. Muitas destas coisas tem origem portuguesa e devem ter surgidas nas epidemias, crises de fome e nas guerras de reconquista e cruzada acontecidas em Portugal. Crises de fome em Portugal aconteceram em 1202, 1310, 1333-1334, 1521-1522, 1597, 1655, 1659. O ar é um dos quatro elementos e está muito presente nas bênçãos. Vejamos a oração contra mal-de-vento-excomungado(ou: ar bravo), em Ponte Nova(MG): Vento maldito vento excomungado Nosso Senhor não te quer aqui. Nossa Senhora há de ti tirar. Nossa Senhora há de ti levar. Ou então: Vento mau excomungado, vento maldito, vento que Nosso Senhor não deixou no mundo, Se é na cabeça, São Anastácio tira. Se é nos olhos, Santa Luzia tira. Se é no nariz, Santa Iria tira. Se é na boca, Nossa Senhora tira. Se é na orelha, São Francisco tira. Se é nos braços, santa Cruz tira. Se é no corpo, Senhor dos Passos tira. PN. AM.13 Uma oração contra queimaduras menciona três do quatro elementos: O fogo não tem frio, a água não tem sede, o ar não tem calor, o pão não tem fome; São Lourenço, curai estas queimaduras pelo poder que Deus vos deu. Fazer o sinal da cruz e oferecer um PN para São Lourenço.14 A oração vem junto com o remédio: folhas machucadas de abóbora colocadas em cima da queimadura. Há quem cura queimadura com cuspo. Existem alguns rituais de cura que colocam o tratamento encrustrado na oração, isto é, reza parte das palavras antes e outra depois. Por ex., quando se vê que um parto será difícil reza a Salve Rainha até “nos amostra” e quando a criança nasceu continuam “o bendito fruto do vosso ventre Jesus etc”. A verdade cura. É importante observar de que maneira algumas grandes verdades aparecem em orações para curar, juntamente com a fórmula: Assim como isto verdade é, etc.. Concretamente, numa bênção de mau-olhado: <...> Jesus Cristo mente? Não Jesus Cristo não mente! Assim como Jesus Cristo não mente, este mal não vai adiante. Da mesma forma usam a verdade: Maria é Virgem, na oração contra a moléstia do tempo. E para curar bicheira afirmam: Trabalhar no domingo não vai para frente; Quem come e não reza, não se salva; Limpas ficaram as cinco chagas de Nosso Senhor; e: Quem come e não reza, não se salva. Rezam: Assim como trabalhar no domingo não vai para frente, esta bicheira não vai adiante. Cai de um em um, cai de dois em dois etc. O assunto é rico e estenso. Aqui apenas lembramos alguns elementos importantes.[Image][Image]Capítulo: 5.C O N C L U S Ã O Na cultura popular a cura implica num ritual: uma oração no sentido amplo, que não contradiz a simpatia, nem o remédio. A reza, a simpatia e o remédio formam o sagrado, o sábio e o competente tripé da medicina popular. No tratamento popular, remédio, simpatia e reza não se separam no tratamento da pessoa doente. Por fim, fica a pergunta: o que fazer com os valores da Cultura Popular na nossa medicina, na nossa vida, na nossa ciência? Duas coisas são certas: · É minha convicção que ainda sabemos muito pouco sobre a vida e a religião dos pobres. · Quando nos defrontamos com a espinela caída e outras coisas curiosas da medicina popular, temos vontade de rir e de considerá-las inúteis, porque não tem sentido para nós e não combinam com nossas teorias. Aí, eu lhes pergunto: quando finalmente vamos pensar a partir do outro que é diferente. Precisamos tentar conhecer sua história e realidade. Os remédios, as simpatias, as rezas fazem parte do agir coerente dos pobres do Brasil.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:1. ALVES, Paulo César Borges. "A Dimensão Social da Doença no Jarê." In: Cadernos do CEAS. Nº150. Março/Abril, 1994. p.70.
2. DINIZ, Pompílio. Poemas. Goiânia, 1987. p.55-58(citamos apenas 7 versos).
3. LACERDA, Regina. Folclore Brasileiro. Rio de Janeiro, Funarte, 1978. p.60.
4. CÉSAR, Getúlio. Crendices no Nordeste. Rio de Janeiro, Ir.Pongetti Ed., 1941. p.66.
5. Registrado por: Maria José Esteves. Divinópolis(MG), 1973.
6. Informante: Irene França dos Santos, abril de 1984. Apud: Souza, José Evangelista. Pe. C.M. Raízes e Histórias. Vol.I. Petrópolis, Vozes, 1989. p.53.
7. Jornal Previcaixa. Out/1993. p.2.
8. Registrado por: Míriam Edinée Leodoro. Divinópolis(MG), 1973.
9. Livro cujo título completo é "O non plus ultra do Lunário e Prognostico perpétuo geral, e particular para todos os reinos e provincias." Composto por Jeronimo Cortez Valenciano. Emendado e traduzido em português por Antonio da Silva Brito. Lisboa, Typ.de Matias José Marques da Silva, 1858. A primeira edição em português é de 1703. Em 1594 saiu a primeira edição em castelhano.
10. Porantim. Ano XIII Nº136.(Brasília.Março/1991) p.11.
11. ROMERO, Sílvio. Cantos populares do Brasil. Tomo II. Rio de Janeiro, José Olímpio Ed., 1954. p.678.
12. NEGRÃO, Walter. et alii. Rezas, benzeduras, simpatias. São Paulo, Ed.Três, sem data. p.413.
13. MERHEB, Alice Inês Silva. Sol e chuva ... Casamento de viúva. Viçosa, U.F.V., 1976. pp.34-35.
14. AZEVEDO, Téo. Plantas medicinais, Benzeduras e Simpatias. São Paulo, Global Editora, 1984. p.172.
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